Estado Terminal
O que me mantém vivo É a aparelhagem de passarinho Vontade de passear no céu O que ainda mantém o batimento É este amor pelas coisas…

O que me mantém vivo
É a aparelhagem de passarinho
Vontade de passear no céu
O que ainda mantém o batimento
É este amor pelas coisas pequenas
Que contêm um universo dentro.
Em meio à internação
Moram os desejos de externar
O que ainda me traz ar
É a inspiração
De tudo o que tem alma
O que me traz a calma
É ver por trás de toda alucinação
uma realidade bela
Pela qual os loucos pasmam
E sou destes loucos!
Que acreditam que sonhar é mais que ilusão.
Não desliguem os aparelhos
O peito tem muito o que bater
Há poucas respostas e muitos porquês
Ainda há muitas memórias para regar
Bagagens para carregar
Nossas e dos outros
Há ainda tantos tesouros
E mapas para encontrá-los
Sofreremos abusos, abalos
Mas tiraremos de letra
Encontraremos amores
E, em meios confusos, saberemos amá-los
Não desliguem as máquinas
O jardim lá fora é muito belo
Devo florir junto com ele
Devo ser sol, girassol
Arranjar motivos em infinito rol
Pois há muito o que amar
Muito o que navegar nesse mar
Cristalino da cor dos devaneios
Devo esquecer meus anseios
E ninar nos seios da liberdade
E as saudades, tratarei de matá-las
E as cidades não atropelarão as esperanças
Em meios ao estático cinza
ainda há valsa, ainda há dança e ciranda
O balanço de minha criança ainda balança
E na balança pesam mais meus ideais
Estado terminal, sim
É o término da tristeza
Um novo início por dia
E da inércia o fim!
